quarta-feira, 8 de junho de 2011

texto do amigo marco struve, para a abertura oito- artes visuais indaialenses. 07.06.2011

Senhoras e senhores Boa noite!

O mundo que vemos e percebemos é o mundo das paixões e desejos. O mundo dos sentidos. Mas o mundo dos sentidos é ilusório. A realidade é o domínio do impreciso, das sombras e das coisas ocultas, e o olhar é o primeiro a ser chamado para ordenar e revelar o mundo. De todos os sentidos, “a vista é que nos faz adquirir mais conhecimento, nos faz descobrir mais diferenças” (Aristóteles). O olhar não ignora e não é ignorado na experiência ambígua de imagens que não cessam de convidar-nos a vê-las e quando conseguimos desvendar os olhos, reconhecemos a vontade de delimitar, de geometrizar, de fixar relações estáveis que não se impõe sem uma violência suplementar sobre a experiência natural do olhar.   O mundo das imagens é o mundo do espirito que sonha, que diz respeito a um conteúdo que não tem nenhuma realidade, nenhum ser. O sensível não é feito somente de coisas. É feito também de tudo o que nelas se desenha, mesmo no oco dos intervalos, tudo o que nelas deixa vestígio, tudo o que nelas figura, mesmo a título de distância e como uma certa ausência.
Viajamos nesta exposição por uma mostra significativa das artes visuais indaialenses, sem, no entanto nos fixarmos a um tema, uma escola pictórica definida, a um estilo restrito. Navegamos pelo realismo e a precisão técnica de Dolores thonern, que nos mostra um domínio da técnica clássica de pintura, mas ao mesmo tempo faz incursões por um figurativismo de linhas modernas.
Mergulhamos nos fragmentos complexos de Elke littig. Ela parte de um plano pictórico, uma superfície vazia onde não há nada dentro, mas de onde extrai o humano da natureza. Elke configura o conteúdo de seus sentimentos em formas de espaço, usando todas as virtualidades dinâmicas da tela. Ela caminha do plano para a sua imagem. Jamais sua criação artística surge do nada. Do simples, faz um poema.
O mesmo poema escrito em outras cores por Homero Moser. A exposição da cor é menos detida que a do desenho. A cor está a ele subordinada, apenas aflora na sua disposição cromática como forma. Percepção de luzes. Circunscrição / composição. O painel transforma-se, na perspectiva, um vidro através do qual o olhar entra no mundo.
Chegamos a Iria de Freitas Bueno. Em duas de suas obras, ela retrata naturezas mortas, cenas domésticas, nada de excepcional se não fossemos imediatamente tocados pela profunda verdade que se irradia destas imagens e pela beleza desta verdade. Ao acompanharmos as várias semelhanças formais temos os elementos que dão aos quadros peso e densidade visual e dimensiona a profundidade do espaço. Sentimos como que uma paz secreta de coisas plenamente presentes.
Chegamos neste momento do caminho aos fotógrafos. Não fizemos esta divisão de forma consciente, mas nos deliciamos com esse acaso da natureza proporcionado pelos nomes de cada um.
A fotografia traz em si a verdade de ser sempre verdade e de ser sempre o passado, a memória, assim é a obra de Luiza Schlegel. Dona de uma sensibilidade e de um senso estético presente em todos os grandes artistas, extrai dos momentos o que eles tem de mais singular, de mais especial. No seu curto tempo como fotógrafa apresenta trabalhos significativos, dignos de reconhecimento.
Já a Fotografia (Marco Struve) para mim é o melhor jeito de aproveitar a vida. Vejam só: é ver, descobrir paisagens, pessoas, coisas, lugares. Tudo isso é nossa vida: experiências vividas, olhando – e vendo – sempre, no visor ou no reflex e daí fotografando sem fim com qualquer máquina ou técnica. Mas olhando. Todo o dia é diferente: todo olhar é outro e a gente percebe finalmente que o mundo é imenso! É bom ser fotógrafo, ser um mágico militante recolhendo o tempo.
Recolhendo nuvens e momentos como faz Nanci Merize Moskorz com suas fotografias que lembram ao mesmo tempo imagens surreais construídas de modo hábil e simultaneamente nos remetem aos tempos de infância redescobrindo em nuvens, sonhos e objetos. Essa singeleza e essa pureza de olhar que nos mostra o deslumbramento dos instantes que nem sempre temos o tempo necessário para ver.
E terminamos nossa breve jornada com ele que foi descrito pelo poeta timboense Lindolf Bell como o iniciador de registros fotográficos de beleza e drama na cidade na história desta arte no vale do itajai, Sidney Luis Saut é advogado e vem de uma família muito conhecida por sua dedicação a vários ramos da arte. Como artista fotografo fez-se presente através de suas obras nos mais distantes pontos do mundo, destacando-se como um dos expoentes mundiais na fotografia monocromática. Nesta exposição, nos brinda com suas oleografias, único no país e um dos poucos mundialmente reconhecidos como detentor de apurada técnica no ressurgimento deste processo nobre, de dificílima excussão.
Quando pensamos, a final, no que mais distingue os seres humanos, na sua humanidade, sua compreensão e criatividade, terminamos chegando sempre a qualidades estéticas: ao senso de harmonia e de beleza que os homens são capazes de entender na natureza. A sensualidade da percepção, que são transmitidas visualmente pelas imagens na arte, e que nós compreendemos sem precisarmos usar palavras. É só olhar.

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